segunda-feira, 1 de outubro de 2007

ENTREVISTA - MOISÉS RABINOVICI


Ele é o atual diretor superintendente do Diário do Comércio, já trabalhou no Última Hora, Diário de Minas, no Binômio – Jornal da Tarde e O Estado de São Paulo(por 42 anos), Revista Época e Rádio Eldorado, foi um dos mais importantes correspondentes internacionais do país. É judeu, nasceu na Cruz Vermelha do Rio de Janeiro. Ele nos concedeu esta interessante entrevista, relatando principalmente momentos em que esteve cobrindo a guerra entre Líbano e Israel. O Francamente abre espaço para este verdadeiro herói nacional:
Evandro Franco - O que significa ser um correspondente internacional?
Moisés Rabinovici -
Eu sou uma espécie em extinção. Sou um dos últimos dinossauros. O cargo de correspondente já ficou inútil. Fui correspondente por 8 anos no Oriente Médio e o jornal dependia exclusivamente de mim para obter as informações. Hoje eu entro na internet e leio os jornais de Israel. O que pode um jornalista estrangeiro, sozinho num país, fazer mais do que fazem os jornais com redações inteiras? Outra razão importante foi que as guerras mudaram. No meu tempo eu ia do lado que estava atacando, depois passava para o lado atacado. Podia ter os dois lados da guerra espelhado no meu artigo. Hoje o que ataca é o avião e você não consegue chegar ao lugar onde os aviões depositaram as bombas.
EF - Como você começou nesta função?
MR - Meu batismo de fogo pode ter sido sorte. Eu estava na redação quando chegou a notícia que o presidente egípcio Anuar Sadat iria fazer uma visita histórica a Jerusalém (1977). Era uma notícia estrondosa, mudava os parâmetros das relações entre Israel e os árabes até aquele momento. O mandatário árabe faria uma peregrinação a cidade sagrada para os cristãos, judeus e mulçumanos e pediria a paz. Murilo Felisberto que tinha me tirado de Minas para o Jornal da Tarde, em São Paulo, deu-me uma missão: “Vai e espera a paz”.A Guerra da Paz foi um processo negociado exaustivamente entre o primeiro ministro israelense Menaghem Begin e o egípcio Anuar Sadat. Acontece que este processo não contemplava os palestinos que se entregaram a atentados e levaram Israel a persegui-los no Líbano, onde estava Arafat1 , mais precisamente em Beirute Oeste. Por duas vezes se instalou a guerra entre Israel e Líbano. Foi numa destas oportunidades que pela primeira vez Israel conseguiu entrar numa capital árabe.
EF - Como é ver a morte de perto?
MR - Aconteceu numa estradinha de um vilarejo libanês em Sidon. Eu vinha vindo de Beirute no meu carro sozinho, porque a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) tinha estourado o gerador do hotel e não dava para transmitir as matérias de lá, então eu peguei uma estrada aberta por tanques para chegar em Haifa2 e lá eu transmitiria meu artigo para o jornal e regressaria a Beirute. Quando eu entrei em Sidon vinha vindo uma manifestação de muçulmanos, todos gritando, punhos levantados e meu carro tinha placa israelense. Meu nome é Moisés Rabinovici, tinha barba na época e meu apelido é Rabino para piorar. Eu achei que se desse ré eu estava perdido, atirariam em mim. Fiquei parado, fechei as janelas, travei as portas e esperei. A turba passou pelo carro que sacolejava. Quando eu vi a frente desimpedida eu arranquei. Fui parar a seiscentos metros a frente, onde vi um bar e parei para perguntar o que estava acontecendo. Relataram-me que um líder religioso de todo o sul do Líbano tinha partido para uma viagem a Europa com escala na Líbia, em Trípoli e lá ele foi preso pelo cel. Kadaf3. Essa turba exigia a libertação imediata do religioso.
EF - Existe alguma preparação para este trabalho?
MR -
Participei de um encontro no Itaú Cultural com o jornalista Sergio D’Avila, da Folha, que cobriu a 2ª Guerra do Iraque4. Ele foi o primeiro repórter a chegar a Bagdá. Ficou engraçado quando ele relatou que foi preparado para a guerra, fez curso para ser correspondente, levou capacete, colete a prova de bala. Isso era mostrado num projetor. Quando chegou a minha vez de mostrar como eu participava de uma guerra, o que se viu foi um cara com uma camiseta com a bandeira brasileira com os dizeres nas costas: “Não atire em mim”, em inglês, francês, árabe e hebraico.
EF - No Brasil você teve algum momento marcante?
MR - Minha primeira matéria ao retornar ao Brasil foi ir ao morro da Mangueira. Eles achavam que eu tinha experiência de guerra e me enviaram para apurar o surgimento de três cadáveres num carrinho de obra, no pé do morro. E lá fomos, eu e o fotógrafo. Fomos subindo e de repente diante de nós se postou um menino com uma metralhadora russa, com os olhos vermelhos pelas drogas. Disse que dali não passava. E não passamos. Essa foi uma lição brasileira. Numa guerra você dialoga com guerrilheiro, no morro você dialoga com um menino drogado que não tem controle sobre si próprio. Não há diálogo.
EF - E um acontecimento inusitado? Houve algum?
MR - O dia que eu acordei assustado e a população também foi quando as bombas pararam e tocaram os sinos. A gente estava tão acostumado a dormir sobre a artilharia pesada que quando ela parou e os sinos repicaram anunciando uma trégua, acordamos assustados.

Citações:

1- Yasser Arafat falecido em
11 de Novembro de 2004 em Clamart, nos arredores de Paris, França, foi o líder da Autoridade Palestiniana, presidente (desde 1969) da Organização para a Libertação da Palestina(OLP), líder da Fatah, a maior das facções da OLP, anteriormente uma organização terrorista, e co-detentor do Prémio Nobel da Paz.
2- Haifa uma cidade portuária de
Israel com cerca de 268 mil habitantes, sendo a terceira maior do país, depois de Tel Aviv e Jerusalém.
3- Coronel Muammar Kadafi, ditador da libanês.
4- Guerra do Iraque em março de 2003, EUA e Inglaterra invadiram o Iraque na intenção de derrubar o presidente-ditador Saddam Hussein. O Iraque era acusado pelo presidente norte-americano George Bush de patrocinar o terrorismo internacional, tendo inclusive vínculos com o grupo Al-Qaeda e com Osama Bin Laden e de ter armas de destruição em massa – químicas, biológicas e nucleares – capazes de atingir aliados e alvos dos EUA.
fontes bibliográticas: http://pt.wikipedia.org

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