Embora estejamos distantes do Norte da África e do Oriente Médio, boas lições podemos tirar das recentes manifestações ocorridas em países daquela região.
Foi numa sexta-feira (17/12/2010), aparentemente calma, que tudo começou. Na pequena cidade, Sidi Bouzid, no bairro de Nour al-Ghardi, morava o jovem Mohamed Bouazizi.
Como muitos jovens brasileiros cresceu pobre e com muitas dificuldades. Sem o pai desde os três anos, vendia fruta e legumes para tentar sustentar a família.
Nas ruas de terra e pedra do pequeno vilarejo, Mohamed era perseguido e oprimido, pelos agentes municipais que exigiam dinheiro para deixá-lo trabalhar.
Muitas vezes apanhou de bastão. Chorou, gritou, sem ninguém para lhe socorrer. Tentava em vão recuperar suas mercadorias.
Naquela sexta-feira, aos 26 anos, Mohamed decidiu por um fim naquela situação.
Imbuído de coragem e determinação, comprou uma lata de gasolina, foi até a Câmara Municipal, e ateou fogo ao próprio corpo.
Aquele tunisiano não imaginava que a partir daquele momento, uma onda de inconformismo tomava conta de toda região.
Não demorou muito e o ditador Ben Ali, acuado pela suplica popular, deixou o poder, depois de 23 anos.
Na semana passada (11/02/2011) o presidente do Egito, Hosni Mubarak, também não suportou ao clamor vindo das ruas e renunciou, após 30 anos no cargo.
No embalo dos países vizinhos, milhares de manifestantes da Argélia, Bahrein e Iêmen gritam nas praças por democracia.
Na Itália a população pede a renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, envolvido em uma série de escândalos sexuais.
Ontem (14/02/2011), em Teerã, manifestantes saíram às ruas (incentivados pelo espírito das recentes revoltas que levaram Ben Ali e Mubarak perderem o poder) exigiram a saída do presidente iraniano, linha-dura, Mahmoud Ahmadinejad.
E no Brasil? Vivemos em democracia há 27 anos. Em 1984 iniciava a transição democrática, após 20 anos de ditadura militar. Uma nova Constituição foi promulgada em 1988, mas somente em 1995, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, nosso regime foi consumado.
De lá prá cá, muitos desmandos, corrupções assolaram e assolam nosso chão.
Almejando dias melhores, elegemos no ano passado, Dilma Rousseff nova mandatária do país.
Porém, na calada de 2010, no último dia de votação efetiva na Câmara, os antigos parlamentares aprovaram projeto de aumento dos próprios salários, em 61,83%. Elevaram os atuais ganhos de R$16.512,00 para R$ 26.723,13. (entrou em vigor em 01/02/2011).
Este é um valor teórico. Todos sabem que cada parlamentar (são 513 deputados e 81 senadores) custa aos cofres públicos, mais de cem mil reais, todos os meses, fruto das regalias do poder.
E isso sem contar com os deputados e vereadores espalhados pelos 26 Estados, 1 Distrito Federal e 5.565 municípios, do território Nacional.
Já para o povo brasileiro (temos acompanhado há dois meses) a batalha para aprovar um salário mínimo de pouco mais de R$500,00. O governo quer R$545,00, já a oposição exige valores de R$560 a R$600,00. Uma disputa tão diferente quando da aprovação dos próprios saldos, quando na ocasião não houve contestação alguma.
Os povos do Oriente Médio estão dando seu recado. O jovem tunisiano Mohamed Bouazizi deixou sua mensagem.
Até quando o povo brasileiro irá aturar de seus representantes atitudes arbitrárias em favor de vantagens próprias, impregnadas de egoísmo, falta de ética, de moral, desunidos dos interesses coletivos para os quais foram eleitos?
Mohamed deixou uma lição: não haverá mudança se o clamor não vier das ruas e praças de nossas cidades.
foto: http://zecarlosfrases.blogspot.com/2011/02/mohamed-bouazizi-e-historia.html
foto: http://zecarlosfrases.blogspot.com/2011/02/mohamed-bouazizi-e-historia.html
Um comentário:
Muito belas suas palvras. Esperamos pacificamente sentados em nossos sofás que haja mudança em nosso país, e enquanto isso nossas "autoridades" utilizam do patrimônio público em favorecimento próprio. Mas ainda há esperança, eu acho... Continue a escrever, quem tem esse dom é capaz de produzir néctar dos deuses a nós leitores!!!
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