quinta-feira, 11 de novembro de 2010

QUEM QUER DINHEIRO?

O diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Alvir Hoffmann, explicou ontem que, se o PanAmericano fosse liquidado neste momento, o rombo financeiro seria da ordem de R$ 900 milhões. Na terça-feira, o empresário Silvio Santos, controlador da instituição, anunciou um aporte de R$ 2,5 bilhões. A diferença é explicada pela necessidade de ajuste patrimonial da instituição de cerca de R$ 1,6 bilhão.

A operação de socorro ao PanAmericano foi a maior já feita pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) a um banco em operação. Em 1995, o fundo injetou US$ 3 bilhões no Bamerindus, mas o banco já havia sofrido intervenção do BC. "Fizemos isso para preservar o banco e evitar um efeito perverso no sistema financeiro", disse o presidente do conselho do FGC, Gabriel Jorge Ferreira.

No caso do PanAmericano, a operação teve garantias das empresas de Silvio Santos que podem ser executadas. Ferreira disse que o fundo espera receber tudo o que aportou de volta. Na falta de pagamento, ele pode executar essas garantias, vendendo ativos ao mercado.

O FGC é uma entidade privada, sem fins lucrativos e que recebe contribuições obrigatórias de todos as instituições financeiras que operam no País. "Não há dinheiro público", lembrou Ferreira.

Problemas – A fraude sofrida pelo PanAmericano foi gerada pela maquiagem de dados envolvendo a venda de operações de crédito para grandes bancos de varejo. O problema foi detectado há cerca de seis semanas por técnicos do BC quando era realizada a conferência dos financiamentos vendidos pela instituição.

Na ocasião, foi constatado que grandes bancos haviam adquirido operações do PanAmericano em número maior que o declarado. É como se o comprador anunciasse a compra de 50 operações, mas o vendedor registrava a venda de apenas dez delas.

Uma das hipóteses é que a diretoria fazia a operação irregular para aumentar o lucro do banco, o que aumentava os bônus dos executivos. O diretor de fiscalização do BC, Alvir Hoffmann, disse ainda não ter precisão quanto às datas, mas admitiu que esse expediente pode estar sendo usado há três ou quatro anos.

Ao se deparar com a diferença de números, técnicos do BC passaram a avaliar carteira por carteira para encontrar a causa do problema. Foi um trabalho de mais de um mês. "O PanAmericano havia vendido operações e não havia 'dado baixa' no balanço. Por isso, o volume declarado era muito maior que o efetivo", disse fonte que acompanhou o processo desde o início. "A manutenção desses ativos na carteira gerava receitas extras, além da própria receita obtida com a venda da carteira. Portanto, o balanço trazia ativos e receitas a mais", explicou Hoffmann.

Segundo ele, "tudo indica que a investigação vai redundar em algo para o Ministério Público", em referência à Lei do Colarinho Branco. As investigações estão na esfera administrativa, mas podem ir para a criminal.

Minoritários – Os acionistas minoritários do PanAmericano devem esperar o desenrolar do processo antes de decidir o que fazer. Essa recomendação é feita pela maior parte dos analistas de mercado que estão acompanhando o caso.

De acordo com os especialistas, a situação deve ficar mais clara depois da divulgação dos resultados do banco relativos ao terceiro trimestre deste ano."Ele virá com números reais e, provavelmente, a nova diretoria deve dar um direcionamento sobre como ficará o banco com o aporte feito ontem", disse Victor de Figueiredo Martins, analista do setor bancário da Planner Corretora.

Ações da instituição despencam

Investidores castigavam as ações de pequenos e médios bancos brasileiros ontem, dia seguinte ao anúncio de que o PanAmericano receberá um aporte de seu controlador após a descoberta de "inconsistências contábeis".

Uma fonte do Banco Central (BC) afirmou que a solução dada ao desequilíbrio da instituição foi a "ideal", ao preservar os interesses dos depositantes sem envolver recursos públicos, e que não haveria risco sistêmico nos bancos.

Fonte: www.dcomercio.com.br

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